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Dose de esperança

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Detempos em tempos, a divulgação de resultados positivos com alguma substância emteste contra o vírus da Aids renova as esperanças de achar um imunizante paraevitar a enfermidade. Na semana passada, foi a vez de um composto espanholchamar para si as atenções mundiais. Cientistas do Centro Nacional deBiotecnologia (CBN) anunciaram que sua fórmula mostrou-se eficiente paracombater o vírus em um estudo feito com 30 voluntários sadios. O trabalho foipublicado na revista científica “Journal of Virology”.

Oimunizante testado, chamado de MVA-B, é fruto da associação de fragmentos de umvírus muito usado em vacinas e de genes extraídos do HIV. Exposto a essacombinação, o organismo humano criou defesas contra proteínas contidas no HIV.Segundo os pesquisadores, houve boa resposta imunológica em 90% das pessoasvacinadas. Além disso, a maioria manteve a imunidade elevada por um ano. Napróxima etapa da pesquisa, marcada para outubro, o composto será avaliado emvoluntários infectados pelo HIV. “Queremos saber quanto a vacina é capaz deevitar a replicação do vírus e manter a doença sob controle”, disse à ISTOÉ opesquisador Mariano Esteban, um dos responsáveis pelo trabalho.

Oponto forte des­­­sa substância desenvolvida na Europa é incentivar a imunidadepor diversas vias. Enquanto algumas vacinas aumentam a produção de anticorposcontra o próprio vírus, outras melhoram o desempenho dos linfócitos (agentesque atacam as células infectadas). Nos testes da Espanha, além de as duas viasterem sido estimuladas, houve uma melhora notável na ação dos linfócitos. Naopinião do infectologista Esper Kallas, da Universidade de São Paulo, é umaestratégia promissora. “Antes de chegar a u­ma conclusão, porém, seránecessário testá-la em grande número de pessoas infectadas e também comvoluntários saudáveis.” Kallas coordena estudos com outra vacina em parceriacom cientistas americanos, peruanos e suíços.

Apesarde animadores, os resultados desse trabalho estão sendo recebidos com cautela.“É muito cedo para comemorar qualquer coisa. Foi estudo pequeno, que está emsua fase inicial”, diz o infectologista David Uip, diretor do Instituto EmílioRibas, referência latino-americana em doenças infectocontagiosas. De fato, naetapa atual, o efeito da vacina foi avaliado em amostras de sangue dosvoluntários expostas ao vírus no laboratório. “Resta saber como o sistemaimunológico reagirá quando a pessoa vacinada estiver em contato com o vírus”,esclarece o infectologista Davi Levy, do Hospital Albert Einstein, em SãoPaulo. Até o momento, todos os estudos com vacinas contra a Aids fracassaram.

O imunizanteem foco possui ainda uma característica que pode limitar, a princípio, a suautilização em larga escala. “Ele combate apenas o subtipo B do vírus, queprevalece nos Estados Unidos, nas Américas e na Europa”, diz o médico ArturTimerman, do Hospital Dante Pazzanese, em São Paulo. Há outros 14 subtiposconhecidos do HIV.