contato@jorgevalente.com.br

Combate mais abrangente ao câncer de colo do útero

domingo, 3 de julho de 2011

A partir deste mês, a faixa etária de mulheres que devem se submeter aopapanicolau será ampliada em cinco anos. A medida tomada pelo governo leva emconta o aumento da expectativa de vida dos brasileiros e a ação do vírus HPV noorganismo
Ana Elisa Santana  

O rastreamento para a identificação do câncer de colo do útero — segundo tumormais frequente em mulheres, atrás apenas do câncer de mama, de acordo com oInstituto Nacional de Câncer (Inca) — passará a ter novas regras neste mês. Oórgão lançará o documento Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncerdo colo do útero, que orienta a conduta de profissionais de saúde com relação àdoença e, entre as principais mudanças, estabelece uma nova faixa etária para arealização do exame papanicolau. Pelas diretrizes publicadas em 2006, arecomendação era que mulheres de 25 a 59 anos fossem submetidos aoprocedimento. Agora, senhoras de até 64 anos deverão fazê-lo.

O aumento da expectativa de vida das brasileiras foi o principal motivo para aalteração da faixa etária do exame, segundo a médica e técnica da Divisão deApoio à Rede de Atenção Oncológica do Inca Flávia Corrêa. “Achamos por bemaumentar um pouco a faixa final do rastreamento, sendo compatível com outrasdiretrizes internacionais”, afirma. A medida é vista com bons olhos porprofissionais de saúde, já que o vírus HPV, principal causa do câncer de colodo útero, demora de 10 a 15 anos para se manifestar. “Você pode ter umapaciente com vida sexual ativa aos 50 anos e que vai apresentar um câncer decolo uterino aos 65”, explica o oncologista João Nunes, do Centro de Câncer deBrasília (Cettro).

De acordo com o Inca, o Brasil dispõe de equipamentos suficientes para arealização do papanicolau em todas as mulheres de 25 a 64 anos, desde que osexames sejam realizados de acordo com a recomendação da OrganizaçãoPan-Americana da Saúde (Opas), ligada à Organização Mundial da Saúde (OMS): a cadatrês anos, depois de dois procedimentos anuais consecutivos com resultadonegativo para o câncer. Segundo Flávia Corrêa, o Sistema Único de Saúde (SUS)está sobrecarregado porque muitas mulheres passam pelo procedimento anualmente.A ideia é conseguir organizar melhor o serviço.

Essa frequência, no entanto, é contestada por alguns médicos. Para João Nunes,as mulheres devem se submeter ao exame todos os anos a partir da primeirarelação sexual, independentemente do uso de camisinha. “O preservativo, ao contrárioda Aids, não previne 100% do HPV. Ele é um vírus de superfície, de pele, então,às vezes, o contato da pele perineal da pessoa contaminada com a sadia ésuficiente para o contágio. O preservativo previne o contato principalmente desecreções”, explica o oncologista.

Um ano de brecha foi o período suficiente para a professora Sílvia Behrens, 41anos, desenvolver o câncer do colo do útero. Ela fazia o papanicolauanualmente, mas, em 2007, quando teve sua filha, ficou sem fazer o exame. “Faza diferença fazer todos os anos. Hoje, eu recomendo a todos que o façam. Em2006, quando fiz o exame antes de engravidar, não tinha nada. Acho que o vírusagiu muito rápido”, afirma a professora, que precisou retirar o útero e astrompas para se curar.

Vacina
Existe uma vacina que protege contra a contaminação pelo HPV, mas, no Brasil,ela é oferecida apenas em clínicas particulares. De acordo com o Inca, não háprevisão para a imunização ser incluída no serviço público de saúde. “Estamosesperando um estudo de custo-efetividade no cenário brasileiro, que está sendorealizado na Universidade de São Paulo. A partir das evidências encontradasnesse estudo, o assunto vai entrar novamente em discussão. A gente não podeimportar modelos de outros países para o nosso”, explica a técnica do IncaFlávia Corrêa.

A imunização deve ser feita antes de a mulher ter a primeira relação sexual, emtrês doses, que custam cerca de R$ 300 cada. Segundo o oncologista João Nunes,a estratégia do papanicolau é mais barata para o governo. “O real impacto davacinação só acontece muito tempo depois. Esse câncer é de aparecimento lento”,afirma.

Lesões perigosas
O exame preventivo conhecido como papanicolau localiza lesões no útero queantecedem ao câncer, permitindo o tratamento antes que a doença chegue aestágios mais avançados. Atualmente, segundo o Inca, 44% dos casosidentificados em mulheres são de lesão precursora do câncer, chamada in situ.Após o diagnóstico precoce, se houver tratamento adequado, há quase 100% dechances de cura.