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Hepatite C atinge mais as mulheres

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O número de portadores de hepatite C cresce a cada ano no Distrito Federal. De 2007 para cá, houve um aumento de 31% dos casos da doença. No período, foram 1.081 diagnósticos confirmados, o que dá uma média anual de 180 resultados positivos, de acordo com o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais no DF, da Secretaria de Saúde (SES-DF), obtido com exclusividade pelo Correio. Estima-se que existam cerca de 24 mil brasilienses infectados pelo vírus.

Para o infectologista Jaime Rocha, o resultado do boletim não traduz a realidade da quantidade de casos da doença que podem existir no DF. “Esse dado não é nem a ponta do iceberg da situação real de a hepatite em Brasília. Muitas pessoas carregam o vírus e não têm a mínima ideia de que possuem a doença. Isso se deve ao fato da hepatite ser inicialmente assintomática. Alguns portadores podem passar até 10 anos sem ter nenhuma manifestação aparente do vírus no corpo, como perda de peso, pele amarela e dores de barriga”, observa.

Ao contrário do que ocorre no restante do país, onde quase 50% dos infectados são homens, segundo o boletim, no DF, as mulheres, entre 20 e 39 anos, correspondem a 56% dos casos de hepatite C. A explicação, segundo a diretora da Vigilância Epidemiológica da SES-DF, Sônia Geraldes, pode estar relacionada ao fato de o exame que detecta a doença ter sido incluído no pré-natal das gestantes da rede pública de saúde a partir de 2009. “Naquele ano, tivemos um aumento do diagnóstico positivo da hepatite entre as mulheres devido ao acesso dos testes de laboratório que detectam a doença. As campanhas de conscientização sobre a hepatite contribuíram para a procura do exame pelas mulheres não grávidas”, explica.

O hemoterapeuta Gustavo Leal discorda do aumento de casos entre as mulheres. “O que observamos nos laboratórios é que tanto eles quanto elas possuem as diferentes formas da doença”, afirma. Segundo o Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais no DF, as cidades com o maior número de casos por 100 mil habitantes são Planaltina, Ceilândia e Recanto das Emas. Gustavo Leal acredita que o fato de a doença ter maior incidência em regiões de classes mais baixas está relacionado à falta de informação sobre a gravidade do vírus e as formas de contaminação, além do compartilhamento de objetos de uso pessoal.

A hepatite C é considerada uma das formas mais graves da doença. As chances de cura desse tipo de vírus pode chegar a apenas 30% (veja arte acima). O tratamento na rede pública de saúde é feito por meio de medicamentos orais e injetáveis. A aposentada Feliciana Lustosa Castelo Branco, 55 anos, foi a primeira brasiliense a receber tratamento gratuito para o tratamento da hepatite C no DF. “Tive que entrar na Justiça para garantir tratamento com um remédio pouco conhecido no mercado. Meu caso era considerado grave porque tive a reincidência da doença e fibrose no fígado. Um médico chegou a me dizer que teria apenas seis meses de vida”, lembra.

Descoberta

O bancário Epaminondas Campos, 61, esposo de Feliciana, conta que descobriu a doença há 10 anos. “Fiz um check-up e soube que tinha o vírus da hepatite tipo C. Como ele não se desenvolveu, não tive danos hepáticos. Então, não pude fazer o tratamento”, relata. À época, ele ficou assustado com o problema, mas, desde então, vive normalmente.

Para conscientizar outras pessoas que convivem com o problema, ele e sua mulher fundaram a organização não governamental (ONG) Grupo de Apoio a Portadores de Hepatite C. “Muitos já me procuraram com dificuldades no casamento por conta da hepatite. O parceiro, por vezes, pensa que o infectado pode ter casos extraconjugais, o que nem sempre é verdade”, afirma Feliciana. 

Colaborou Larissa Garcia.