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Veias desobstruídas

domingo, 24 de junho de 2012

Depois de mais de uma década trabalhando em pé, o vendedor Adriano Boaventura, de 36 anos, passou a sentir uma dor constante nas pernas. Além dela, a sensação de queimação, inchaço e peso. Ele começou a prestar atenção na aparência das veias e desconfiou que tivesse varizes, embora elas não se apresentassem tortuosas e alongadas. O resultado do ultrassom, contudo, não deixou dúvidas sobre o estágio de dilatação dos vasos sanguíneos e a necessidade de removê-los.
O vendedor admite que, por acreditar que o problema só acometesse mulheres com muitos filhos, demorou a procurar ajuda médica. “A gente imagina que os homens estão livres disso. Fiquei me enganando por medo de enfrentar uma cirurgia”, conta.

Para especialistas, acreditar que as varizes só aparecem com o avanço da idade e exclusivamente em mulheres constitui um equívoco comum. Apesar de atingirem quatro vezes mais mulheres e serem quase regra durante a gravidez, as varizes estão presentes em cerca de 30% da população, incluindo os homens. Segundo os médicos, a idade dos pacientes que têm varizes também vem diminuindo.

Como o problema tende a piorar com o passar do tempo, os médicos reforçam a necessidade de cuidados preventivos. Fatores evitáveis, como o uso precoce de anticoncepcionais, ficar muito tempo sentado ou de pé e o sedentarismo, são alguns dos grandes culpados pela diminuição da faixa etária dos pacientes.

Pessoas com histórico familiar devem tomar ainda mais cuidado, pois a hereditariedade é o principal fator de risco para o mal. “Quem tem parentes com varizes apresenta o dobro de chances de desenvolver a doença”, explica o cirurgião vascular Daniel Mendes Pinto. Segundo ele, a principal causa do surgimento de varizes é a fraqueza da parede das veias, que se dá por origem genética. Obesidade e má postura também podem contribuir para o problema.

Enquanto as varizes menores têm impacto mais estético, as chamadas varizes calibrosas são sintomáticas e incomodam muito o paciente. O tratamento para esses casos depende do grau da doença. Normalmente, os disponíveis aliviam os sintomas e previnem a evolução do problema, que pode resultar em trombose venosa, em dermatites ou até mesmo em úlceras, segundo o angiologista Rodrigo Moreialvar, da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.

A escolha do melhor método depende também da veia a ser tratada. A escleroterapia (injeção de uma solução dentro dos vasos) “seca” a veia, permitindo que ela seja reabsorvida pelo corpo. O procedimento dura cerca de 20 minutos e não exige repouso. Uma aplicação em forma de espuma potencializa o efeito do remédio e pode ser usada com sucesso em varizes de médio calibre.
Já a cirurgia convencional é indicada para a retirada de varizes mais grossas e que acarretam problemas funcionais. Geralmente, é feita com anestesia local, e as varizes são retiradas por meio de pequenos cortes na pele. O paciente pode ficar um dia internado, retomando a rotina em uma semana.

Cirurgias a laser também são comuns, já que são menos invasivas e oferecem recuperação rápida. Nesse caso, uma microfibra ótica com laser de iodo é introduzida na veia doente. Ela fecha totalmente as paredes e o organismo desvia o sangue para veias saudáveis.
 
Recuperação mais rápida
As varizes em veias maiores das pernas, em especial as safenas, podem ser tratadas com um procedimento que, desde 2005, vem sendo utilizado em países desenvolvidos com grande sucesso: a radiofrequência. Ela pode tratar somente o segmento da veia doente, sem a necessidade de retirá-la totalmente. Essa, segundo Daniel Mendes, é a grande vantagem da técnica sobre os procedimentos convencionais.

A radiofrequência para cuidar de varizes é usada em veias safenas, em veias varicosas de grosso calibre e em veias perfurantes, e pode ser feita em vários segmentos venosos com anestesia raquidiana ou local, dependendo do volume de veias a serem tratadas.

O princípio da técnica é a transferência de energia para a parede da veia, de modo que ocorra uma redução do calibre da fibrose: “Fazemos um pequeno corte de 2mm e posicionamos o cateter no interior do local a ser tratado, fazendo o disparo da radiofrequência. A liberação de energia é uniforme e controlada. É um procedimento rápido e muito menos agressivo que a retirada convencional das safenas ou das veias calibrosas”, esclarece o médico.

A pouca agressão aos tecidos leva à recuperação mais rápida. Estudos mostram que o prazo para o retorno às atividades habituais de trabalho após uma cirurgia venosa convencional é de 18 dias. Com a radiofrequência, o retorno se dá depois de seis dias. Ocorrem menos hematomas e menos dor pós-operatória, com recuperação mais rápida e confortável. De dois a quatro meses depois, a veia é absorvida pelo organismo.

Eunice Benfica, de 81 anos, foi uma das pacientes que experimentaram a técnica. Depois de ter seis filhos e sem tempo para cuidar da saúde, os problemas de varizes foram se acumulando ao longo do tempo. Desde que nasceu seu penúltimo filho, há mais de 40 anos, ela sofria com dores nas duas pernas. Além das varizes, que lembravam raízes de árvores, segundo ela, havia feridas pequenas que não cicatrizavam. As safenas tinham problemas sérios de circulação.

Eunice conviveu com todos os incômodos até que um dia passou mal em casa e foi levada às pressas ao hospital, onde foi detectada uma trombose. Tratada a doença, ela foi submetida, em janeiro, ao procedimento que usa a radiofrequência para o tratamento das veias. “Me recuperei rapidamente e nunca mais tive dores nas pernas, e o mais importante: as feridas não voltaram”, comemora.

Origem do problema
As artérias transportam o sangue rico em oxigênio e nutrientes que é bombeado pelo coração e percorre todo o corpo até as extremidades

O retorno do sangue é feito pelas veias. Nos membros inferiores, elas precisam vencer a força da gravidade para transportar o
sangue de volta ao coração

O que são varizes
São veias superficiais dilatadas, tortuosas e alongadas que alteram a circulação venosa do organismo, gerando dores nas pernas, queimação, cansaço e inchaço, principalmente ao redor do tornozelo

Quando procurar um especialista
»  Se há veias azuladas e muito visíveis abaixo da pele ou agrupamentos de finos vasos avermelhados
»  Se a pessoa sente queimação nas pernas e na planta dos pés
»  Se as pernas incham, especialmente nos tornozelos, ao fim do dia
»  Se há prurido ou coceira
»  Se a pessoa sente cansaço, fadiga ou peso nas pernas
»  Se há sensação de pernas inquietas ou cãibras

Como evitar o problema
»  Não fique parado. Ande por 10 minutos a cada duas horas
»  Pratique exercícios regularmente
» Evite excesso de peso, adotando alimentação equilibrada
»  Procure alternativas entre métodos anticoncepcionais
»  Use meias elásticas

Como tratá-las
»  As varizes menores, ou microvarizes, são tratadas sem cirurgia, com escleroterapia, conhecida como aplicação nas veias. É um procedimento consagrado e eficaz, feito há muito tempo
»  Para as veias de calibre intermediário, há a opção de tratá-las com injeção de microespuma, também uma técnica antiga que passou a ser mais utilizada nos últimos anos com uma medicação mais moderna
»  As varizes maiores são tratadas com cirurgia, ou seja, com a retirada delas  por meio de  pequenas incisões: técnica segura e padronizada, feita há vários anos
»  O laser é também uma opção para o tratamento da safena, assim como a radiofrequência. Ambos agem liberando energia para as paredes das veias. Com o laser, a liberação de energia não é controlada, existem picos de temperatura que podem danificar as paredes das veias  
»  Para as pessoas que precisam tratar as veias safenas ou as perfurantes (20% a 30% dos pacientes), a radiofrequência é um dos procedimentos mais realizados. Ele permite tratar somente o segmento da veia doente, sem a necessidade de retirá-la totalmente. No Brasil, a a radiofrequência, que tem registro na Anvisa, está disponível desde 2011 e já foi feita em cerca de 400 pacientes

Como é a radiofrequência
»  É feito um corte de 2mm na pele, puncionada a veia (safena ou perfurante) e posicionado o cateter de radiofrequência
»  Faz-se o disparo dos ciclos de radiofrequência dentro da veia. Cada um dura 20 segundos e são feitos cerca de seis a sete ciclos, dependendo da extensão da veia. Usando o ultrassom vascular durante o procedimento, ocorre o fechamento da veia e a redução do seu calibre, o sangue não passa por ela e o tecido fibroso é absorvido com o tempo. Não ocorre trombose da veia
»  Depois da radiofrequência, outras veias são tratadas com a retirada cirúrgica por pequenos cortes ou com a injeção de esclerosantes. Isso depende de cada caso.
»  Algumas vezes, o tratamento é realizado somente nas safenas,  com a radiofrequência.
»  Outras vezes, é necessário fazer a retirada deoutros segmentos venosos pelas incisões